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Risco de IAM e AVC aumentam meses antes de um diagnóstico de câncer

  • Pam Harrison
  • 11 de jan. de 2019
  • 4 min de leitura

O risco de infarto agudo do miocárdio (IAM) ou de um acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico começa a aumentar cinco meses antes dos pacientes receberem um diagnóstico de câncer, chegando ao risco máximo no mês anterior ao diagnóstico, segundo dados de um estudo de caso-controle pareado e retrospectivo.

"Já sabemos que o câncer é um fator de risco importante de trombose arterial, neste estudo tentamos descobrir quando este risco começa, e parece ocorrer cerca de cinco meses antes do diagnóstico de câncer", explicou ao Medscape o Dr. Babak Navi, neurologista no Weill Cornell Medicine and Memorial Sloan Kettering Cancer Center na cidade de Nova York.

O novo estudo foi publicado on-line em 21 de dezembro no periódico Blood.

Isto significa que o médico deve rastrear todos os pacientes idosos para câncer após um episódio de tromboembolia arterial?

O Dr. Babak alertou que os pesquisadores ainda precisam determinar a utilidade do rastreamento de câncer oculto nos pacientes idosos com infarto agudo do miocárdio ou acidente vascular cerebral isquêmico. Existem potenciais riscos associados ao rastreamento, como a exposição à radiação, o custo e os achados incidentais que podem levar à realização de mais exames.

Porém, o pesquisador também disse que pode ser uma boa ideia para alguns pacientes.

"Precisamos avaliar caso a caso, quando alguém tem um acidente vascular cerebral ou um infarto agudo do miocárdio, especialmente sem razão aparente, ou seja, o paciente não tinha fatores de risco destas doenças, e se houver algum sinal ou sintoma de câncer, como anemia sem explicação, perda ponderal, aumento dos linfonodos, sangue nas fezes recente ou tosse, pode-se considerar fazer os exames de rastreamento. E, por rastreamento quero dizer: tomografia computadorizada do tórax, abdome e pelve, o que é fácil de realizar", disse o Dr. Babak ao Medscape.

No novo estudo, os autores revisaram um conjunto de dados populacionais do Surveillance Epidemiology and End Results (SEER), ligado ao Medicare – seguro de saúde pago pelo governo dos EUA a pacientes idosos –, e identificaram 374.331 pacientes com 67 anos de idade ou mais que receberam o diagnóstico de um dos nove tipos de câncer estudados.

Os pacientes com câncer foram pareados com pessoas de controle, que não tinham câncer, por ano de nascimento, sexo, raça, e diagnóstico de alguma outra doença, como fibrilação atrial. A análise avaliou 748.662 participantes no total.

"Definimos um episódio de tromboembolia arterial como um composto de infarto agudo do miocárdio ou acidente vascular cerebral isquêmico", disseram o Dr. Babak e colaboradores.

A média de idade da coorte foi de 76 anos, e pouco mais da metade era composta de mulheres.

Ao diagnóstico, 30% dos tumores estavam no estágio III ou IV.

O risco de infarto agudo do miocárdio ou acidente vascular cerebral isquêmico foi avaliado em intervalos de 30 dias, a partir de 360 dias antes da data na qual os pacientes receberam o diagnóstico de câncer.

"De 360 a 151 dias antes do diagnóstico do câncer, os riscos de eventos tromboembólicos nos períodos de 30 dias foram semelhantes entre os pacientes com câncer e os controles pareados sem câncer", informaram os pesquisadores.

No entanto, este risco de infarto agudo do miocárdio ou acidente vascular cerebral isquêmico, considerando os períodos de 30 dias, aumentou sistematicamente a partir do 150º dia até o dia anterior ao diagnóstico de câncer nos pacientes comparados aos controles. O risco cresceu progressivamente com a proximidade da data do diagnóstico do câncer.

Nos 30 dias anteriores ao diagnóstico de câncer, o risco de algum episódio de tromboembolia arterial foi mais de 5,5 vezes mais alto do que nos controles, ou 0,62% vs. 0,11% (P < 0,001).

Quando os pesquisadores analisaram os dados de todo o período de 360 dias antes do diagnóstico do câncer, o risco de um episódio tromboembólico foi 69% maior comparado aos controles, ou 1,75% vs. 1,05% (P < 0,001).

Os pacientes com câncer de pulmão tiveram o maior risco de um evento arterial tromboembólico nos 360 dias antes do diagnóstico, em seguida vieram os pacientes com câncer colorretal.

O risco de ter um episódio tromboembólico permaneceu elevado para os pacientes com câncer em comparação aos controles, mesmo quando as análises foram restritas aos pacientes sem diagnóstico de fibrilação atrial como comorbidade.

"Os riscos relativos de infarto do miocárdio isolado e acidente vascular cerebral isquêmico isolado foram semelhantes, apesar do infarto do miocárdio ter sido ligeiramente mais comum do que o acidente vascular cerebral isquêmico", disseram os pesquisadores.

O estágio do câncer quando do diagnóstico foi associado à probabilidade do paciente ter um episódio de tromboembolia arterial nos últimos 360 dias, foi observado que o risco aumenta com o aumento do estágio do câncer.

Por exemplo, o risco foi 32% maior para pacientes com câncer com tumores em estágio I em comparação aos controles, 55% maior para os pacientes com câncer em estágio II em comparação aos controles e mais de duas vezes maior para aqueles cujo câncer era de estágio III no momento do diagnóstico em relação ao grupo de controle.

Para aqueles com câncer em estágio IV no momento do diagnóstico, o risco de ter um episódio de tromboembolia arterial foi ligeiramente acima do dobro do risco observado nos controles.

O Dr. Babak destacou que a propensão do câncer de causar trombos provavelmente se deve a uma ação direta, desencadeando episódios de tromboembolia nos pacientes que acabaram sendo diagnosticados com câncer.

No estudo SEER-Medicare feito anteriormente, dos 279.719 pacientes diagnosticados com oito tipos comuns de câncer, o risco dos pacientes terem algum episódio de tromboembolia arterial nos seis meses após o diagnóstico de câncer aumentou 120% em comparação aos controles pareados sem câncer.

Contudo, o Dr. Babak destacou que o período após o diagnóstico do câncer é bastante complexo, pois existem diversos fatores além do câncer que podem contribuir para o aumento do risco de trombose arterial neste contexto, como a cirurgia e a quimioterapia, fatores de risco conhecidos de tromboembolia.

Além disso, os pacientes que fazem quimioterapia podem ter plaquetopenia que indica a suspensão dos anticoagulantes. Todos são potenciais fatores de confusão nesta associação.

"Mas antes do diagnóstico do câncer, não há tratamento, assim conseguimos retirar alguns destes fatores de confusão", disse o Dr. Babak.

O estudo foi financiado por subsídios para pesquisa dos National Institutes of Health e do Florence Gould Endowment for Discovery in Stroke. Os autores informaram não ter conflitos de interesses relevantes.

Blood. Publicado on-line em 21 de dezembro de 2018. Abstract

Citar este artigo: Risco de IAM e AVC aumentam meses antes de um diagnóstico de câncer - Medscape - 9 de janeiro de 2019.

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