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Ioga: de modismo a intervenção baseada em evidências

Batya Swift Yasgur / Medscape

A prática de ioga, que consiste em posturas e técnicas de respiração, pode contribuir para melhorar os sintomas de depressão e ansiedade em pacientes com transtorno depressivo maior, sugere nova pesquisa.

Os pesquisadores estudaram o impacto das posturas da ioga Iyengar e da respiração coerente por meio da randomização de 32 adultos com transtorno depressivo maior a um grupo de alta dose (GAD) ou a um grupo de baixa dose (GBD), com base na frequência de aulas e sessões domiciliares, durante um período de 12 semanas.

Os pacientes em ambos os grupos tiveram melhora dos sintomas de depressão e ansiedade, além de mais sentimentos positivos.

"Ioga e práticas de controle da respiração são usadas há milhares de anos em diversas culturas para controlar o estresse, ansiedade, depressão, dor e muitas outras patologias", disse ao Medscape a coautora do estudo, Dra. Patrícia L. Gerbarg, professora assistente de psiquiatria no New York Medical College, nos Estados Unidos.

"Os médicos deveriam considerar com seriedade incluir práticas mente-corpo, como ioga e respiração coerente, em suas recomendações de tratamento para pacientes com sintomas depressivos", ela acrescentou.

O estudo foi publicado on-line em 13 de novembro no periódico Journal of Psychiatric Practice.

Dose ainda não definida

Embora uma base crescente de evidências fundamente o uso da ioga como um "tratamento eficaz para o transtorno depressivo maior", poucos estudos (se houver algum) publicados avaliam a "dose ideal", escreveram os autores.

O presente estudo teve como objetivo "avaliar os efeitos de uma intervenção combinando ioga Iyengar e respiração coerente na função psicológica em indivíduos com transtorno depressivo maior para determinar a dose ideal da intervenção para futuros ensaios clínicos randomizados".

Os participantes foram aleatoriamente designados para o GAD (N = 15), que fez três aulas de ioga de 90 minutos + quatro sessões de 30 minutos em casa por semana; ou para o GBD (N = 15), que praticou duas aulas de ioga de 90 minutos + três sessões de 30 minutos em casa por semana.

A idade dos participantes variou de 18 a 65 anos (média de idade de 38,4 ± 15,1 anos no grupo de alta dose e 34,7 ± 10,4 anos no grupo de baixa dose). A maioria dos participantes, em ambos os grupos, era do sexo feminino (87% e 80%, respectivamente) e branca (67% e 87%, respectivamente).

Não houve diferenças na média de idade, distribuição de gênero, nível educacional ou raça/etnia entre os dois grupos, e não houve diferenças estatisticamente significantes em nenhuma medida no início do estudo.

Os participantes preencheram uma série de questionários psicológicos e escalas de humor, inclusive o Patient Health Questionnaire (PHQ-9) e o Spielberg State-Trait Anxiety Inventory-State (STAI-State) ao início do estudo, e nas semanas 4, 8 e 12.

A prática total de ioga, ou seja, o tempo combinado nas aulas mais em casa, foi em média de 86,7 horas no grupo de baixa dose e de 122,8 horas no grupo de alta dose.

Benefícios imediatos e em longo prazo

Os participantes de ambos os grupos tiveram melhoras significativas em todas as medidas de resultados, incluindo benefícios imediatos e em longo prazo.

Embora os participantes do GAD tenham mostrado melhora mais acentuada em todas as escalas, as diferenças entre os grupos não foram estatisticamente significativas, "possivelmente devido à falta de poder relacionada com o pequeno tamanho da amostra", sugeriram os autores.

As pontuações do PHQ diminuíram 36,8% do início do estudo até a semana 12, com cada hora adicional acumulada de ioga associada a uma diminuição significativa de 0,044 pontos (β = - 0,044; SE = 0,005; P < 0,0001), "indicando uma redução dos sintomas depressivos", relataram os autores.

No entanto, não houve diferença significativa entre o GAD e o GBD (β = - 0,042; SE = 0,013; P = 0,002 e β = - 0,045; SE = 0,006; P < 0,0001, respectivamente).

Também foram observadas melhoras nos sintomas de ansiedade, com cada hora adicional cumulativa de prática de ioga associada a uma diminuição significativa na gravidade da ansiedade em aproximadamente 0,105 pontos na escala STAI-State (no total, β = - 0,105; SE = 0,020; P < 0,0001).

Aumentar a quantidade total de tempo dedicado à prática de ioga levou a melhoras significativas do aumento do envolvimento positivo, revitalização e tranquilidade, bem como diminuição da exaustão física.

"O compromisso de tempo para a prática de ioga precisa ser ponderado em relação aos benefícios ao se planejar intervenções de ioga", observaram os autores.

Associação com GABA

A Dra. Patrícia citou pesquisas sugerindo que a ioga e a respiração coerente podem "ativar as vias parassimpáticas vagais aferentes que levam ao aumento nos níveis de ácido γ-aminobutírico (GABA)"- um mecanismo que ela chamou de "teoria vagal-GABA".

Por exemplo, em um estudo anterior, Dra. Patrícia e colaboradores usaram imagens cerebrais de ressonância magnética com espectroscopia para comparar os níveis de GABA em controles saudáveis em relação a indivíduos com transtorno depressivo maior que estavam participando uma intervenção que consistia na prática de ioga por 12 semanas (posturas físicas e respiração coerente).

No início do estudo, pacientes com transtorno depressivo maior tinham níveis mais baixos de GABA em comparação com seus pares saudáveis no grupo de controle. No entanto, após a intervenção, os sintomas depressivos e de ansiedade melhoraram, e os níveis de GABA foram semelhantes aos dos controles saudáveis.

"O achado de que ioga e respiração coerente podem aumentar a atividade do neurotransmissor GABA abre as portas para o uso desses métodos no tratamento de transtornos de ansiedade, abuso de substância e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), uma vez que o GABA é necessário para inibir ou reduzir a hiperatividade da amígdala que ocorre em transtornos de ansiedade, abuso de substâncias e TEPT", disse a Dra. Patrícia.

Um editorial recente de Varambally et al publicado no periódico British Journal of Psychiatry, avalia o conjunto de evidências para o uso da ioga como uma intervenção terapêutica em transtornos psiquiátricos, sugerindo que pode estar evoluindo "de modismo para intervenção baseada em evidências".

Os autores apresentam evidências que embasam o papel da ioga na melhora dos sintomas de depressão e ideação suicida, bem como na melhora de sintomas negativos, qualidade de vida e cognição social em indivíduos com esquizofrenia.

Eles observaram que uma "base de evidências emergente" aponta para mudanças benéficas nos biomarcadores resultantes da prática de ioga, incluindo melhora da neurotransmissão GABAérgica, modulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA) e aumento dos níveis de serotonina no cérebro.

Otimizar resultados?

Comentando o estudo para o Medscape, a Dra. Patrícia Anne Kinser, Ph.D., professora associada da VCU School of Nursing, nos EUA, disse que a pesquisa sobre terapias não farmacológicas para depressão "é muito necessária", e que as terapias mente-corpo, como a ioga, "têm um grande potencial para otimizar os resultados em pacientes com sintomas depressivos".

Em particular, é "altamente relevante avaliar a dosagem ideal de intervenções, porque, para criar recomendações baseadas em evidências, médicos e pesquisadores precisam saber qual seria a 'dose mínima' de uma intervenção", disse a Dra. Patrícia, que não participou do estudo.

"Pessoalmente, não acredito que as doses dos dois grupos tenham sido suficientemente diferentes, para se detectar diferenças entre elas", acrescentou. "Este estudo não contrapôs os resultados com um grupo de comparação – por exemplo, um grupo de controle ativo – e o tamanho da amostra foi bastante pequeno, portanto, os achados não avançam significativamente o tema."

Por esse motivo, "mais pesquisas precisam ser realizadas nessa área antes que possamos fazer recomendações baseadas em evidências para nossos pacientes sobre a dosagem ideal de uma intervenção de ioga", disse ela.

A Dra. Patrícia observou que sua própria pesquisa anterior "sugeriu que mesmo práticas inconsistentes de intervenções baseadas em ioga podem ter impacto mantido ao longo do tempo".

Os autores do estudo reconhecem que o pequeno tamanho da amostra "limita a capacidade de determinar diferenças entre os grupos e generalizar para populações maiores".

No entanto, eles observaram que "reduções significativas nos sintomas depressivos foram maiores do que as observadas em ensaios de depressão controlados por placebo".

"Agora temos a tecnologia para explorar como essas práticas ancestrais afetam nossa mente e emoções, nossos estados psicofisiológicos", acrescentou Dra. Patrícia.

"Quanto mais entendermos os numerosos mecanismos envolvidos nesses efeitos", ela explicou, "mais seremos capazes de desenvolver terapias mente-corpo eficazes para melhorar o tratamento ao paciente".


O estudo foi financiado por doações de National Center for Complementary and Integrated Health, Boston University Clinical and Translational Science Institute (CTSI) e Unidade de Pesquisa Clínica Geral do Boston University Medical Center. Dra. Patrícia ensina e publicou sobre o método Breath-Body-Mind©, um programa com múltiplos componentes que inclui respiração coerente. As declarações dos outros autores constam no artigo original. Varambally e coautores e Dra. Patrícia Kinser informou não ter relações financeiras relevantes.


J Psychiatr Pract. Publicado on-line 13 de novembro de 2019.


Medscape.

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